Ex-presidiários recordam momentos difíceis na prisão de Sednaya

CERCA DE 13 MIL RECLUSOS TERÃO SIDO EXECUTADOS NA SÍRIA

O antigo governo Sírio,  liderado por Bashar al-Assad, é suspeito de ter orientado a  execução de 13 mil reclusos na prisão  de Sednaya, considerado por testemunhas como um "matadouro", principalmente de  presos políticos.

Relatos apontam que as execuções tiveram lugar no período de 2011 e 2015, no norte de Damasco, com a presumível orientação do antigo presidente Bashar al-Assad, que se  encontra em  asilo na Rússia, com a família.

A queda do actual governo, em 8 de dezembro, fruto da luta  desencadeada pela  oposição síria, liderada pelo Hayat Tahrir al-Sham, com apoio de vários grupos considerados de  rebeldes, incluindo o Exército Nacional com suporte da Turquia,  como parte do conflito interno iniciada em 2011, trás a superfície uma denúncia antiga da Amnistia internacional.

Após a queda de Bashar al-Assad, estima-se que cerca de 3 mil reclusos de Sednaya foram libertos,  aproveitando desta feita,  ausência dos agentes afectos aos serviços prisionais, que se colocaram em fuga.

"Cheguei vendado, espancaram-me brutalmente e chutaram-me para dentro da cela", disse Yusuf Daham Shumlan, de 35 anos, um dos ex-reclusos, em declaração a  LUSA.

Encarcerado em 2016, recorda que alimentação era precária,  a base de pão, batata mal cozida e tomate.

Relativamente ao diálogo com os demais reclusos, não era permitido, sob pena de serem punidos se fossem flagrados pelos agentes da segurança ou pelas câmaras de vigilância.

Segundo informações, negadas há anos pelas autoridades da Síria, os reclusos postos na cave, enfrentavam piores cenários, com permanência em celas húmidas, sem luz e nem se quer lhes era permitido efectuar qualquer reclamação, sob pena de serem torturados.

Um outro recluso que optou pelo anonimato, descreveu que foi detido por suposto envolvimento ao terrorismo e por ser da oposição.

Com prudência, por defender que já não confia em ninguém, fruto dos momentos tristes que viveu  e a chamada de atenção que lhe foi feita pelos responsáveis da cadeia, aquando da sua soltura.

"Disseram-me para nunca contar o que vi aqui, ou nunca mais veria a luz do sol", acresceu, na esperança de observar a destruição do edifício com urgência para que ninguém seja levado novamente naquele local.

Nas celas, os ex-reclusos recordam que dormiam e acordavam com cheiro nauseabundo dos quartos-de- banho e sempre que fossem retirados para cuidar da limpeza do estabelecimento, muitos desapareciam misteriosamente, ao ponto de testemunharem sangue nos corredores, como um indício claro de execuções que ocorriam.

Amnistia internacional, fala em aproximadamente 13 mil cidadãos executados na cadeia Sednaya mas, outras organizações e populares referem que os números podem ser superiores caso se faça uma investigação independente.

Nos últimos dias, chegaram relatos de familiares que procuram seus entequeridos, na esperança de encontrá-los em vida nesta cadeia construída em 1980, onde há  décadas foram encarcerados vários cidadãos, espancados, estuprados e privados de medicamentos.

Calcula-se que o perímetro externo era vigiado  por 200 soldados das forças militares, enquanto outros 250 soldados da inteligência militar e da polícia eram responsáveis pela segurança interna.

Redacção Ponto de Situação

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