O Sociólogo Adriano Tandela, detectou várias lacunas no processo de reeducação e reinserção social dos reclusos no país e considera serem factores que contribuem para o retorno ao crime, por parte dos cidadãos que outrora viram a privação da liberdade por cometimento de delitos.
Em Angola tem sido recorrente observar ex-reclusos, a cometerem acções ilícitas, o que os leva novamente a perca da liberdade.
Chamado analisar esta problemática, o Sociólogo Adriano Tandela, olha para os serviços prisionais, no quadro das suas competências, como instituições que têm a função ressocializadora, capazes de oferecer ao recluso, propostas de comportamentos socialmente aceites, "evitando assim, a violação de normas no convívio", com o próximo.
O trabalho desenvolvido nos estabelecimentos prisionais, segundo Adriano Tandela, deve permitir o ressurgimento de um novo cidadão, que ganhe consciência e tenha a capacidade de dizer não a reincidência criminal.
Relativamente, aos factores que estão na base dos ex-reclusos retornarem a prática de acções ilícitas, o profissional formado em Sociologia, começou por descrever a questão da superlotação das cadeias, que chega a dificultar os especialistas a desenvolverem o seu trabalho com eficácia.
" As condições precárias dos estabelecimentos prisionais, a falta de apoio do Estado para promover a plena reintegração do individuo", são outros elementos enumerados.
Adriano Tandela garante que deve haver por parte do Estado, aposta na formação académica e profissional dos ex-reclusos, bem como, a continuidade no acompanhamento psicológico dos mesmos.
"Não basta devolver o indivíduo à sociedade", disse o Sociólogo em declarações ao Ponto de Situação, destacando por seu turno, a necessidade de se criar políticas que reflectem a assistência social, que visa resgatar a dignidade da pessoa humana e a promoção da cidadania.
FAMÍLIA E SOCIEDADE
O Sociólogo Adriano Tandela, garante que a inexistência, em muitos casos, de membros na família que sirvam de referência positiva na transmissão de valores, pode influenciar os ex-presidiários a retomarem a vida anterior que os levou a prisão.
"A título de exemplo, podemos mencionar a falta de atenção e comunicação com o antigo recluso no seio familiar, a falta de recursos financeiros e materiais para o seu sustento, agravado pela falta de ocupação, quer em termos de emprego, como em termos de formação académica ou profissional", apontou.
O Sociólogo lamenta o facto de volte e meia, os indivíduos recém integrados na sociedade, sofrerem descriminação, factor que em muitos casos os deixa numa condição de vulnerabilidade face ao julgamento social a que são submetidos.
Já no relacionamento consigo mesmo, outro aspecto preponderante que pode levar o ex-recluso à reincidência criminal, é a falta de auto - controlo diante da reacção negativa da sociedade, com forme descreveu o interlocutor.
Diante deste cenário, garante que muitos, como mecanismo de defesa chegam adoptar facilmente comportamentos desviantes em relação aos estigmas e preconceitos contra si, vindos das pessoas que o rodeiam.
Questionado sobre os políticas que devem ser aplicadas para a criação de um ambiente acolhedor, para que os ex-reclusos possam ter uma reintegração e reinserção plena na sociedade, defendeu que se deve levar a cabo, um trabalho conjunto entre as instituições encarregues neste processo.
Para o Estado, que tem a função de administrar o sistema prisional, o sociólogo reiterou que aposte na formação profissional e académica dos ex-reclusos, para que se evite futuros desvios de comportamentos por parte desta franja da sociedade.
" Cabe ao Estado continuar a fazer o devido acompanhamento até a plena reintegração dos indivíduos em causa", um trabalho onde a seu ver, a igreja tem jogado um papel importante, por isso, apela aos membros das confissões religiosas que desenvolvam acções com ex-reclusos, em casa e na comunidade religiosa.
Adriano Tandela reconheceu que a mensagem de Deus, ajuda a transformar os indivíduos em pessoas de bem, como na construção de uma sociedade mais coesa e digna para todos.
Sobre a família, reforçou que os seus membros não devem desistir da sua missão de prestar suporte emocional ao indivíduo que acaba de sair da cadeia. "Deve abraçar mesmo que todas outras instituições declinarem em prestar o apoio", aconselhou.
Neste processo de ressocialização do antigo recluso, destaca o trabalho das Organizações Não Governamentais (ONGS), enquanto parceiras do Estado, no sentido de prosseguirem com acções viradas aos cidadãos, dentro e fora das cadeias.
Aos ex-reclusos, apela que tenham uma mentalidade forte e capaz de resistirem a qualquer estigma e preconceitos vindos da sociedade, para que não cometam os mesmos erros e reforça, a determinação que devem apresentar no cumprimento das normas socialmente aceites.
Nesta conformidade, o Sociólogo Adriano Tandela, acredita que algumas das medidas apresentadas, vão ajudar na redução do índice de reincidência criminal na sociedade, uma luta que deve ser colectiva.